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É Possível Recontextualizar a Realidade

Quando pensamos em T.A. geralmente o associamos a crianças e jovens em idade escolar, todavia não são raros os que chegam a idade adulta com baixa autoestima, por não terem conseguido apresentar desempenho satisfatório na vida acadêmica e consequentemente acabam se desinteressando a abandonando os estudos, mesmo apresentando potencial intelectual e cognitivo. Muitos se sentem marginalizados, discriminados e o prejuízo emocional é inevitável, as consequências que estão a ele relacionadas são de diversas ordens, inclusive na esfera profissional.

Quero compartilhar a história de superação de uma paciente de origem oriental, membro de uma família numerosa, na qual os irmãos são graduados e que chegou para tratamento psicopedagógico aos 58 anos de idade, após receber o diagnóstico de dislexia. Trata-se do exemplo de uma pessoa que não deixou de acreditar na vida e nela mesma, apesar dos desafios que teve que superar desde sua infância. O texto a seguir intitulado: “O caminho da superação”, foi redigido por iniciativa própria e entregue pouco tempo antes da alta.

“Foi no ano de 2005 que li uma matéria sobre Dislexia, me interessei e fui pesquisar. Acabei chegando na ABD – Associação Brasileira de Dislexia, onde realizei todos os testes e foi confirmada a minha suspeita. Sou disléxica!
Aos 8 anos de idade me dei conta das minhas dificuldades na escola, meus pais não podiam me ajudar nas minhas tarefas escolares, porque eram estrangeiros e pouco falavam a nossa língua. Achavam que eu não era capaz, por alguma deficiência, para prosseguir estudando. Acabei aceitando que não tinha inteligência suficiente para aprender, e terminei o primário, tentei o ginásio e não consegui.

Alguns anos depois, tomei uma decisão, queria ter uma profissão, ser independente, meus pais me deram todo o apoio, acabei vindo para São Paulo, fiz um curso de cabeleireira e exerço a profissão até hoje.
Durante o curso, não tive maiores dificuldades, porque a maioria das aulas eram práticas e isso me facilitou muito. Trabalhei em vários salões de beleza, adquiri prática e acabei abrindo meu próprio negócio.

No meu dia-a-dia não tive muita dificuldade, mas a minha organização sempre foi deficiente. Num determinado momento resolvi voltar a estudar, mas não foi possível concluir, pois, não conseguia entender a matéria e, além de tudo, faltava tempo para os estudos. Acabei abandonando novamente.Na luta para esquecer meus fracassos mergulhei no trabalho. Trabalhei muito! Achava que era o eixo da família, mas hoje acho que estava totalmente equivocada, queria ser reconhecida e mostrar que era capaz, pra família, pra mim e pra sociedade. Com a ajuda do trabalho psicopedagógico que realizo há pouco mais de 2 anos, além de estar ciente das minhas “limitações”, lido com elas de forma diferente. Posso dizer que já obtive bons resultados, pois, me relaciono melhor com as pessoas, tenho paciência comigo, tento alcançar meus objetivos, voltei a estudar, aproveito melhor as aulas de Tai Chi Chuan, tomo decisões com maior confiança, dirijo melhor no trânsito, pratico a meditação do Budismo Tibetano e estudo a filosofia Budista, hoje com mais desenvoltura.

A leitura é um capítulo a parte, no passado entender o que eu lia era muito difícil, e aos poucos fui deixando de ler, mas isso sempre me deixou muito triste, hoje, depois do trabalho psicopedagógico, já consigo viver junto com os personagens a história que leio. Pra mim isto é fantástico!! Acabou mudando também o meu modo de pensar, de agir e de viver. A soma de tudo isto, é que hoje tenho uma qualidade de vida melhor, me sinto capaz e independente.”

Esse depoimento mostra até onde uma pessoa pode chegar, quando acredita no “jogo da vida”, enxerga a impossibilidade como uma condição momentânea e, sabendo disso, não desiste. Nenhuma outra postura é tão instigadora de criatividade e intuição quanto o não desistir. O simples fato de permanecer no jogo abre opções que, fora dele, obviamente não existem.